“O que você quer ser quando
crescer?” – a pergunta que nos assombra desde a infância. A diferença é que
quando se é criança, a pergunta apenas acompanha um tom de curiosidade e real
interesse em relação ao que você gosta e se interessa em fazer, e à medida que
crescemos, a pergunta passa a ser carregada de cobranças e questionamentos.
Nunca
tive muito foco e paciência para me apegar a uma coisa só na vida, e não era
diferente quando me faziam a assombrosa pergunta. A resposta variava de acordo
com meu humor, de acordo com o momento. Já quis ser professora, veterinária, –
e que garota nunca quis? – artista, escritora, bombeira, médica, jornalista,
astronauta, engenheira e por aí vai. Uma certeza sempre me acompanhou: eu
queria ser mãe. Mas não era essa a resposta que as pessoas queriam quando me
questionavam sobre meu futuro, embora fosse a única resposta sincera que eu
tivesse a oferecer. As pessoas esperam uma resposta que lhes dê orgulho,
esperam que você diga que quer ser presidente, ir à lua ou algo do tipo.
Cabeças rolariam se sua resposta fosse “quero ser gari e manter as cidades
limpas”. Emprego de extrema importância para a sociedade e extremamente digno,
mas mal visto pelos pais e mães desse mundo afora.
E é aí
que eu pergunto a mim mesma, aos dezoito anos: o que eu quero ser quando
crescer?
Olha, não
sei não, viu. Sinceramente.
Depois
de muito pensar, pesquisar, questionar e imaginar, eu sei o que quero cursar na
faculdade. Isso eu já sei. O que eu quero ser é algo muito amplo, as
possibilidades são tantas. Mas se me perguntarem o que eu não quero ser, a
resposta surge com mais facilidade.
Eu não
quero ser como aquele cara cansado com uniforme de uma empresa qualquer que eu
vi na padaria dia desses. Aquele cara que trabalha no famoso estilo “6 por 1” e
mal passa tempo com sua família. Não quero ser como aquela mulher infeliz que
vive às custas do marido e nem ao menos o ama mais, apenas mantém a mesma vida
por comodidade. Não quero ser como as esposas que idolatram seus maridos e
esquecem dos filhos ou, pior, as que pararam no tempo e acham “descolado” ser
confundida como irmã de seus próprios filhos adolescentes. Não quero ser como
aquele senhor que vive em função da quantidade de dinheiro que mantém,
rejeitando oportunidades de ser feliz por não aceitar gastar o dinheiro que
possui, vivendo uma vida de miséria enquanto seu dinheiro apodrece em um cofre
qualquer de banco. Ou aquele outro senhor
que trocou de esposa e no meio do caminho acabou deixando seus filhos e
netos para trás.
Se for
mesmo para traçar um padrão de quem eu quero ser, eu digo que quero ser como a
minha mãe, que troca qualquer dinheiro no mundo para estar com quem ama, que
troca um dia de faxina por uma tarde jogando video game com seus filhos. Quero
ser como meu pai, que batalhou a vida toda e nunca deixou faltar nada em casa,
muito menos amor. Melhor ainda, quero ser como os dois juntos, que na alegria e
na tristeza, na riqueza e na pobreza, permanecem juntos por quase trinta anos.
Quero ser como meus irmãos, que vivem suas vidas sem se preocuparem com o que
os outros pensam, que correram atrás do amor, sem ligar para o que o mundo
achava disso. Quero ser como minha família, que, apesar de todas as brigas e
gritarias, mata e morre um pelo outro.
E ainda
sim, quero ser como eu mesma. Mudando a cor do cabelo a todo momento, indo a
shows de rock, falando o que penso, sendo até meio mal educada às vezes, – por
que não? – acertando, errando mais ainda, mudando de opinião a cada cinco
minutos. Quero ser essa metamorfose ambulante, como diria meu caro Raul.
Quero
continuar achando que dinheiro não é o que mais importa, continuar confiando em
meus princípios e valores. Quero trocar trabalho e salário por família e
diversão. Quero mudar o mundo, nada de mais.
Sei
que hoje, se me perguntarem que carreira quero seguir, direi que quero ser
arquiteta, que quero criar, dar vida a sonhos. Mas se me perguntarem o que eu
quero ser, minha resposta será um terrível e sincero clichê: quero apenas ser
feliz.
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